Produtores rurais de Glaucilândia desenvolvem projeto para preservação de nascentes da Bacia do Rio São Francisco
Proposta preserva as nascentes do Rio Verde e faz o reflorestamento das matas ciliares; iniciativa ganhou o concurso de Boas Práticas “Salve o Rio São Francisco” do governo de Minas.
s nascentes do Rio Verde, afluente do Velho Chico, estão sendo recuperadas em Glaucilândia, no Norte de Minas, através de uma ação desenvolvida por produtores rurais da região. O Projeto "Nascentes do Rio Verde" criado há pouco mais de um ano consiste em cercamento das nascentes e reflorestamento das matas ciliares. A iniciativa ganhou o concurso de Boas Práticas “Salve o Rio São Francisco” do governo do estado, que premiou projetos de conservação de água e combate ao desperdício.
De acordo com o extensionista da Emater/MG, Jair Dantas, quatro nascentes já foram recuperadas e conta com a mobilização de aproximadamente de 30 produtores. “A ideia é replicar o projeto em todo o município. Pretendemos recuperar cerca de 30 nascentes nos próximos três anos. Precisamos resgatar a capacidade hídrica do solo. O lençol freático da região está em um nível crítico”, diz. Além da implantação de cercas, o projeto também conta com a plantação de mudas, distribuídas pelo Instituto Estadual das Florestas (IEF). Elas se dividem em plantas nativas e frutíferas, o que pode também contribuir para a alimentação dos produtores.
O projeto já apresenta resultados positivos na região.“Em anos anteriores, alguns pontos do rio secavam completamente. Hoje, ainda vemos pontos com água, mesmo em época de seca. Com o tempo, a fauna e a flora vão se desenvolver. A iniciativa beneficia tanto o ser humano, quanto os animais”, avalia o extensionista.
Seca
De acordo com um levantamento da Emater, em 2016, choveu 1.141 milímetros no município, que tem cerca de 3 mil habitantes. Já em 2017, esse número caiu quase para a metade: 629 milímetros. Segundo o órgão, as lavouras de milho e feijão, principais produtos da região, tiveram 90% da produção perdida. A carne bovina e a cana-de-açúcar caíram 60%, enquanto a produção de leite sofreu queda de 47%.
A situação colocou o município em estado de emergência e os produtores esperam que a recuperação das nascentes mudem esse cenário. De acordo com o presidente da associação responsável pelo projeto, Manoel da Paixão, o processo é demorado, mas é uma tentativa eficaz.
“Durante muitos anos os agricultores e pecuaristas desmataram esses locais e destruíram as nascentes para plantar capim e fazer pastagens. Depois de uns quatro anos de seca que eles estão vendo a importância das nascentes para a sobrevivência da produção. O processo de recuperação pode ser demorado, mas é uma forma de garantir recursos para as próximas gerações. Já estamos sentindo sinais da água novamente. Temos esperança”, conta.
Segundo ele, no início de fevereiro, o projeto pretende iniciar a revitalização das matas ciliares que correm o Rio das Pedras. Outra iniciativa é construir barraginhas nas comunidades para armazenar a água das chuvas.
Além da Emater, instituições como o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema); o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, apoiam à causa. Por meio desses órgãos, são solicitados os materiais para o cercamento e entregues aos produtores, que executam a obra.
Projeto premiado
A proposta de recuperação das nascentes e reflorestamento das matas ciliares, desenvolvida pela Associação dos produtores da Comunidade de Cava do Curral de Glaucilândia venceu o I Prêmio de Boas Práticas ‘Salve o Rio São Francisco’, na categoria melhor projeto ou prática de cidadão, grupo de cidadãos ou organização da sociedade civil, em 2017. A campanha é promovida pelo governo estadual.
O título é concedido às instituições ou pessoas que atendam aos critérios estabelecidos pelo Sistema Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) e que possuam regularidade ambiental. O objetivo da campanha consiste em incentivar as boas práticas ou projetos de conservação, o combate ao desperdício dos recursos hídricos na região, bem como o uso consciente.
A ideia de revitalização e reflorestamento de nascentes em Glaucilândia desbancou vários projetos em todo o estado. Sua relevância foi atribuída por meio de critérios estabelecidos pela organização. São eles: facilidade de replicação da prática, facilidade na conservação das águas da Bacia do Rio São Francisco, ganho na economia e no uso racional da água, originalidade e inovação, construção e participação coletiva, impactos positivos e benefícios para o meio ambiente e a sociedade e colaboração com a execução de políticas públicas.
FONTE: G1